sábado, 29 de agosto de 2015

#QLQRUA: A gatinha na janela e os protestos

Gato branco/ Imagem: 1Wallpaper
Da janela a gatinha branca observa tudo atentamente, fazia tempos que ela não via a avenida tão movimentada, com tantas pessoas. Ela lembrou que há dois anos atrás uma garotada havia começado essa onda de protestos.

A gatinha branca já é considerada velhinha, tem 17 anos, e gosta de passar os dias tomando banho de sol na janela do apartamento em que vive com a família. De lá, em uma almofada fofa colocada para o seu prazer, a bichinha fica de olho em tudo que acontece na rua. Ir lá, nem pensar, é muita gente, muito carro, logo é perigoso.

Desde filhotinha ela tem essa mania de ficar por ali. Mas senta, arregala os olhinhos só observando o que ela mais gosta, os protestos. O primeiro da vida dela tinha sido a marcha dos 100 mil em Brasília, na época morava lá, quando o pai humano era assessor de um deputado. Era um movimento com ampla participação do PT que era contrário ao governo da época, comandado pelo presidente FHC.

Um ano depois, já em Porto Alegre ela participou de uma caminhada cheia de gente, mas era pela paz, no Fórum Social Mundial. E ela não caminhou, mas foi no colinho gostoso do pai.

Depois disso, outros protestos e manifestos foram feitos, mas nenhum de expressão. Só que em junho de 2013 a situação mudou um pouco. Protestos realizados por jovens, sem partidos envolvidos. Para ela aqueles meninos e meninas que cantavam e gritavam pedindo melhorias na saúde, na educação dentre outros eram lindos. Só não gostava da violência envolvida nos protestos, violência causada pelos manifestantes e pelos policiais.

Recentemente ela tem observado ânimos mais aflorados. No domingo, 16 de agosto, em todo o País teve protestos contra o governo de Dilma Roussef, no qual muitas pessoas pediram o impeachment da presidente. A crise econômica no qual o Brasil vive, assim como os amplos casos de corrupção foram motivadores principais. Pelo estimado pelas PMs cerca de 160 mil pessoas fizeram parte dos eventos em todo o território nacional.

Dois dias depois foi a vez das pessoas pró-governo irem para rua, afinal eles queriam mostrar que querem o fim da corrupção, contudo, defendem a democracia e o direito da Presidenta ir até o fim do mandato. Muitas das pessoas envolvidas pediam que Eduardo Cunha, presidente da Câmara Federal, deixasse o cargo. Cerca de 20 cidades brasileiras tiveram o manifesto. Diferente dos protestos anteriores, estes de 2015 tem ligação com partidos políticos.

Recentemente a gatinha branca acompanhou mais um protesto. Na terça-feira, dia 25 de agosto, o movimento pedia uma coisa que certamente todos da Capital Gaúcha já sentiram falta. Segurança. Motoristas de taxi, de ônibus, lotações, cobradores, enfim, rodoviários em geral fizeram um ato, a partir do Largo Glênio Peres pedindo por mais segurança. De acordo com os manifestantes o número de assaltos aumentou, muito em razão da impunidade, do prende e solta. Esse protesto, para a gatinha foi o mais importante de se ver, já que ela sabe como é ruim passar por um assalto. Há quatro anos atrás ela foi roubada junto com o carro da mãe humana. Só de pensar por tudo que passou ela arrepia os pelinhos.

Verdade seja dita, aquele animalzinho entendeu as razões dos protestos muito melhor que muitas pessoas. Manifestar, protestar, pedir os seus direitos, cobrar os políticos é algo assegurado em lei. Protestar é a melhor forma de garantir a cidadania, é a melhor maneira que garantir a liberdade política de um país. É uma das muitas formas de cobrar aqueles que elegemos para comandar o Brasil.

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O personagem existe, mas alguns detalhes são mais literários, simplesmente para dar um estilo mais suave ao texto. Leia mais crônicas da série Em qualquer rua.

sábado, 22 de agosto de 2015

#QLQRUA: Nem toda vó

Nem toda vó...

... é chata
... é legal
... conta história
... pega no colo
...faz bolo de chuva
... odeia rock
... gosta de valsa
....curte sertanejo
... gosta dos netos
...é velha
...é nova
... têm filhos adultos
... tem muitos netos
...gosta de doce
... gosta de salgado
... gosta de sair
... gosta de bingo
... gosta de conversar com os vizinhos
... gosta de vegetais
... tem que tomar remédios
... tem cabelos brancos
... tem cabelos pintados
... tem só qualidades

Têm muitas vós...

... que odeiam música alta
... que amam rock-rool
...que amam ir ao baile
...que amam os netos
... que não gostam dos netos
... que têm filhos da idade do neto
... que tem neto pequeno e bisneto grande
... que tem mal humor
... que tem risada engraçada
... que tem que tomar remédios
... que gostam de salada
... que não gostam de comidas saudáveis
... que fazem bolo de chocolate
... que não sabem fazer nada na cozinha
... que namoram com o vô
... que não namoram ninguém
... que são viúvas
... que são separadas
... que são namoradeira
...que só contam histórias
.. que tem o cabelo grisalho
... que tem o cabelo colorido
... que odeiam fofoca
... que amam uma fofoca
...que são cheias de qualidades e cheias de defeito

Têm vós que gostam de uma coisa enquanto outras preferem outras. Simples como a vida. Não é a idade que transforma uma pessoa, e sim tudo aquilo que elas já viveram e o quanto querem viver, Vós são pessoas, são subjetivas. São mulheres que apesar da idade ainda possuem muitas doses de charme, no qual muitas se aproveitam, enquanto outras esqueceram.

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Leia as demais crônicas da série Em qualquer Rua clicando aqui.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Primeiro passo...

Não há como não abrir o sorriso, mas o passo, o primeiro, foi dado a recém. Ainda falta muito, o caminho é longo e para não sair do rumo é necessário foco.

O primeiro degrau foi subido, mas a escada não é firme, é bamba. Para continuar é necessário cuidado, paciência e uma boa dose de otimismo.


#Cotidiano

sábado, 15 de agosto de 2015

QLQRUA: O pai, a dor, a coragem e a pequena filha

Era muita dor para aquele rapaz e seus trinta e poucos anos. Uma dor que lhe rasgava o peito. Naquela tarde quente de sol ele enterrou a mulher de sua vida. A pessoa que amava com todas as forças, sua companheira desde os 20 anos.

Ele caminhava a passos apresados. Há dois dias atrás a dor compartilha espaço com uma alegria sem igual. A rapidez com que caminha é rumo a maternidade onde a pequena e frágil filhinha está.

O medo é maior que tudo. A cada passo um novo dilema: "como farei para criá-la sozinho? Como darei conta de assumir a casa, o cuidado com a meu grande amor e do trabalho? Nossa, meu grande amor! Meu grande amor é tão grande que não tenho noção de tamanho (risos) e tão grande e tão pequenina. Meu Deus, por que me deixaste? Por que não me levou e deixou a mãe? Como farei para explicar as coisas de menina? Como se fala sobre sexo com uma criança? Como vou conseguir a licença paternidade estendida? Como vou educá-la?...

Enquanto reclamava e se questionava em pensamento ia em direção a UTI Neonatal. Lá todos os pensamentos pararam, uma paz invadia o peito. Bastava olhar a menina que dormia tranquilamente na encubadora. Foi um susto seu nascimento, uma tristeza ver a esposa morta 12 horas depois, uma angústia ver a filha tão frágil.

Mas apesar de pequenininha, a guriazinha ainda sem nome, era forte e valente. Em breve iria para casa.

_Papai, está na hora da bebê mamar, senta que essa tarefa é sua!

Falou a enfermeira para o homem, que a olhou de forma apavorada. Ela apenas sorriu, o sentou e explicou como ele teria que dar o mama a neném, o quanto ela era era forte, que já havia ganhado peso, sobre a alta hospitalar.

Enquanto a enfermeira tirava a filha da encubadora, o jovem engoliu o choro. "Aquele era o momento da nossa mulher, teu e dela, da sua mamãe, filha".

Mas ao agarrar a pequena nos braços, coloca-la de forma apertada no peito, acarinhar a cabeça sem cabelinhos, e pegar a mamadeira de leite morninho, ele se encheu de coragem. Era incrível o poder que ela tinha de fazê-lo imaginar um presente, um futuro melhor.

Após a mamada, ele continuou com ela no colo, ela dormindo esboçou um sorriso. E o homem todo bobo, se perguntou como um dia ele conseguiu viver sem ela: "a minha super-guria".

E como se ela fosse entender o que ele falaria, soltou: _amanhã o pai vai te levar para casa e nós vamos assistir no Youtube as várias formas de arrumar o teu cabelo. Depois Vitória, vamos buscar a tua Certidão de Nascimento e procurar um advogado para que o pai consiga te cuidar em tempo integral por seis meses.

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Em qualquer Rua