sábado, 18 de julho de 2015

Pausa na série Em qualquer Rua

Neste mês de julho, a partir de hoje, 18 de julho, irei dar uma pausa na série Em Qualquer Rua. O trabalho está mais puxado este mês, já que além dos freelas e do Dois Minutos, no qual estamos cobrindo os jogos da Seleção  Brasileira no Pan e a partir de amanhã no Mundial Jr, também estou envolvida com a cobertura do Pan-Americano de Toronto. Apresento diariamente dois boletins informativos na Rádio Estação Web, intitulado Estação do Pan, e nesta mesma rádio que apresento o programete Nada Além de Dois Mintos, todas as quartas e duas sextas-feiras por mês.



Como a minha rotina ficou mais pesada, minhas horas vagas usarei para descansar, ler, estudar e também ficar com a minha família. Como me falta uma rotina fixa eu também não tenho muitos horários vagos prefiro aproveitar cada momentinho. Peço desculpas aos leitores e também compreensão.

Até agosto!

Abraço forte!

sábado, 11 de julho de 2015

#QLQRUA: O músico

Banco de imagens
Todos os dias ele acorda cedo. Prepara o café, toma banho, arruma o cabelo, põe a melhor roupa. De avental organiza a casa, leva os cachorros para passear.

Antes meio-dia esquenta o almoço, come, lava a louça. Afina os instrumentos musicais, pega a bolsa e sai. Por voltas das 12h15 está na parada de ônibus, pega o coletivo e vai até o Centro da cidade.

Chegando ao destino, ele organiza o seu espaço. Evita ficar no meio da rua, mas também não fica escondido. As pessoas estão em passos rápidos. Muitas em compras, enquanto outras estão a caça de um local para almoçarem, e outras já se direcionam aos seus trabalhos, após a refeição. Neste ritmo frenético, ele começa a tocar.

Primeiro uma leve sinfonia, uma música clássica tirada com maestria da guitarra. Depois começa a tocar músicas mais populares, toca sertanejo. Percebe que as pessoas já o observam enquanto caminham. A partir daí toca seu repertório preferido, os clássicos do rock.

As pessoas param para escutá-lo. Ele se alegrou. Deu o seu melhor, para agradar o público. A caixinha tem dias que fica cheia, tem dias que vazia. Sabe que mesmo quando tem lucro é necessário poupar, para ter o que comer no mês inteiro.

Às 16h ele para o espetáculo. Guarda a guitarra, vende alguns CDs. Recolhe a bolsa com os demais instrumentos, agradece a Deus por mais um dia, e vai rumo ao seu próximo compromisso.

Certa vez, já era 17h10 quando chegou na escola que dava aulas gratuitas as crianças que moravam na região. Estava atrasado, pediu desculpas a diretora do projeto e aos pequenos alunos. Naquele dia ensinaria um pouco mais sobre a arte de dominar os instrumentos de corda.

Apresentou para as crianças o violoncelo, o violino...

Ao anoitecer, logo após as aulas, ele se direcionou a sala da diretora para conversarem sobre os próximos passos que dariam. Discutiram por mais de duas horas e planejaram como fariam para arrecadar fundos para comprar os instrumentos musicais que seriam utilizados na aula. Acabado a conversa, foi para casa, como todos os dias.

Ao chegar brincou com os cães, tomou banho, ensaiou um pouquinho, preparou o jantar, comeu, lavou a louça, e foi dormir. Fazia isso todos os dias. Nos demais que viriam tudo igual.

Mas na semana passada, uma boa nova veio de uma empresa que doou os instrumentos necessários para a manutenção do projeto.

Mas hoje algo mudou. O Músico percebeu que entre a sua platéia estava uma moça conhecida. Era a jovem diretora do projeto. Com o fim da apresentação foi falar com ela, e por sua surpresa descobriu que ela sempre o via tocar.

Diferente das demais tardes, o caminho da escola teve companhia. Após a aula,o músico não vai para casa. Nesta noite vai relembrar como é bom viver o amor além de suas melodias.

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A história de um professor de música que escutei no ônibus deu origem a esta crônica.
Confira as demais histórias da série Em Qualquer Rua.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

sábado, 4 de julho de 2015

#QLQRUA: a história dos invisíveis Joana e Felipe

Joana e Felipe eram irmãos. Moravam em uma vila de uma grande cidade, não tinham pai e a mãe era viciada em cocaína. Não sabiam quem eram os avós, nem ninguém da família. Enquanto estavam na creche estavam a salvos de toda a criminalidade existente na metrópole. Aulas de tempo integral, chegavam lá as 7h30 e só saiam depois de 12 horas. Iam para casa apenas apenas para dormir, muitas vezes com fome. Muitas sem a companhia da mãe durante as madrugadas.

Quando saíram da creche tinham cinco e seis anos. Estudaram em uma escola municipal, meio turno apenas. No tempo livre ficavam na rua, brincavam...

A mãe sem trabalho fazia pequenos furtos para conseguir manter o vício, que naquela etapa já era em crack. Muitos destes furtos acompanhada pelos pequenos. Com fome, Joana e Felipe pediam comida, depois aprenderam a pegar ônibus, iam até as avenidas principais  pediam esmola. No começo ganhavam, afinal, quem não cai aos encantos de pequenas crianças tão fofinhas.

Mas todo mundo cresce. Felipe foi violentando sexualmente aos 9 anos. Joana, com 10, tentou evitar e apanhou muito. Mas os dois não enfrentaram apenas estes tipos de violência, sofreram de todos os tipos.

Joana e Felipe seguiam pedindo para comer, porém não recebiam mais esmolas e poucos davam algo para que comessem. Trabalho não conheciam. A mãe foi presa por roubo a uma loja e os dois ficaram sozinhos em casa, já que fugiram dos conselheiros tutelares por medo.

Joana para conseguir dinheiro passou a se prostituir, tinha 11 anos. Aos 13 fazia pequenos assaltos. Engravidou aos 14 e seguia fazendo os programas e os assaltos, não sabia quem era o pai do filho que carregava no pequeno ventre.

Felipe fazia pequenos furtos. Invadia mercados e só roubava comida. Até conhecer um traficante e perceber que como aviãozinho recebia muito mais. Na época com 13 anos conseguiu dinheiro suficiente para fazer um enxoval simples, porém bonito, ao sobrinho que iria nascer.

Aos 16 anos Joana já era mãe de duas crianças e estava grávida do terceiro. Aos 15, Felipe também já era pai. No tráfico ganhou status e a irmã não precisou mais se prostituir, mesmo assim ela se mantinha nos assaltos, se especializou no roubo de veículos de grande porte. Seduzia caminhoneiros e quando eles menos esperavam eram assaltados pelo bando comandado pela jovem de encantadores olhos azuis e pele morena.

Felipe aos 18 anos era traficante e comandava a boca. Enquanto Joana, com 19, era temida no mundo do crime, estava grávida pela quinta vez. Tinha perdido a guarda dos três filhos, pois ela e o irmão haviam sido presos, e a quarta filha perdeu em um aborto espontâneo, aos seis meses de gestação, durante um assalto.

Sem conhecer o que era certo ou errado. Mantendo vícios, mantendo-se no mundo do crime os irmãos que sempre viveram unidos também esnobavam a lei. Aos 19 anos, Felipe foi morto durante um embate com a polícia. Morto com um tiro a queima roupa e enterrado como indigente. Joana foi presa um ano depois e hoje cumpre pena em um presídio federal. Não sabe onde estão os filhos.

Ninguém visita Joana nem coloca flores no tumulo de Felipe. A margem da sociedade, invisíveis, tal como quando nasceram e cresceram.

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Em uma época que tanto se fala em infância lembrei desta história que ouvi quando eu era criança, da marginalização dos invisíveis. Vale a reflexão, afinal quantas Joanas e Felipes existem sem que nós tenhamos notado?

Mais crônicas da série Em qualquer Rua aqui!