sábado, 25 de abril de 2015

#QLQRUA: Pequenas corrupções

Dias desses tive que ir até uma loja de roupas para pagar um carnê. Minha mãe aproveitou para me pedir algumas coisas e como eu estava com tempo comprei. Esse não é fato principal, mas algo que na longa fila me chamou a atenção.

A grande fila do caixa me fez colocar os fones e ligar o rádio. Eu estava entretida com a conversa dos locutores e dos comentaristas até que uma cena me chamou a atenção. Uma mulher, com idade próxima de 40 anos, acompanhada do filho, com provavelmente oito anos. Isso somente não teria me chamado a atenção se não fosse o fato dela ter entrado na fila preferencial. Ela olhou com desdem para a menina do caixa, uma jovem inexperiente que tinha ali seus primeiros dias de emprego. A mulher achou que a jovem não iria chamar a sua atenção. Quando chegou a sua vez ela inflou o peito e deu uma boa encarada, porém a mocinha não teve problema de dizer "não vou atende-la, me desculpe senhora, mas aqui é o atendimento é preferencial".

Ela não gostou nada, contudo saiu da fila. Não entrou na outra, ficou por ali só esperando o melhor momento. Quando a fila que eu estava se mexeu ela num instante tentou entrar, em bom português, tentou furar a fila. Só tentou e não conseguiu. Partiu então para a chantagem, disse para o menino, que deixaria as compras, não daria naquele momento os presentes para ele. Ele chateado miou um pouco e baixinho largou um "mãe eu fico sozinho na fila". Foi o drama e ela conseguiu seu lugar na fila já que uma senhora lhe cedeu o espaço.

Essa não é a única história de atitudes anti-sociais que ocorrem diariamente. Cotidianamente é bem fácil ver essas ações. Alguns chamam de pequenas corrupções. Isso me fez refletir mais uma vez. Aquele troco dado errado, a furada de fila, não dar lugar no ônibus para grávidas, por exemplo, acontecem com certa banalidade. Quando vejo, leio, escuto sobre os casos de corrupção no Congresso, no Senado, mais recentemente na Petrobrás, me pergunto: isso não é apenas um reflexo das atitudes de parte da população?

Não dá para cobrar de alguém uma atitude correta quando também não se tem. Como dizer que aquele fez errado se também não se faz o certo? Não, não estou falando do politicamente correto, estou falando sobre atitudes corretas, como respeito ao próximo, gentileza e educação.

Apontar o dedo e dizer que tudo está errado é fácil. Mas evitar cometer as pequenas corrupções também deveria ser. Não adianta reclamar que a cidade alaga se joga lixo no chão. Se não te lixeira não é mais fácil cobrar da prefeitura?

Dizer que político é ladrão é fácil, mas quantas pessoas entregam o dinheiro a mais que recebe de troco quando o caixa erra o valor?

Repensar nas atitudes é a melhor forma de melhorar a nossa sociedade e sem aquela história de que sozinho não se muda o mundo. Realmente pequenas atitudes não mudam o mundo, mas torna a convivência em sociedade mais leve.

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sábado, 18 de abril de 2015

#QLQRUA: A Baronesa do Tráfico


Aquela senhora de sacolinha de mercado no braço, pagando o que havia comprado no mês anterior no bazar do bairro parece uma simples idosa. Quem a vê de cabelos curtos, cacheados, brancos, a estrutura já debilitada pela idade jamais poderá dizer que aquela mulher tem uma história envolvida com o crime. Ela até pouco tempo atrás era conhecida como a Baronesa do Tráfico.

No final dos anos de 1980 ela era casada. Ajudava o marido no trabalho, mas era uma simples dona de casa. Ele era barbeiro de primeira e tinha clientes de gabarito. O que poucos sabiam era que aquela barbearia bem frequentada também era um local sigiloso de tráfico de drogas. Talvez ninguém ficasse sabendo se o homem não tivesse se envolvido em outro caso policial e não tivesse sido morto.

Era um domingo a tarde. A capital estava parada em virtude de um feriadão. Era o dia perfeito. Um mês antes o sócio do marido, da então dona de casa, propôs deles assaltarem um banco. Eles precisavam do dinheiro e essa seria a melhor forma de conseguirem rapidamente. O tráfico da forma que eles negociavam no salão, quase que de forma vip, não estava dando resultado. O homem tremeu um pouco, mas aceitou a ideia. A mulher não topou muito na hora que soube, mas apoiou o marido, afinal, pensou ela, é para isso que serve as esposas, principalmente ela que estava ao lado daquele homem há mais de 20 anos.  Foi reunido um grupo de seis pessoas e naquele domingo o plano foi posto em ação.

Contudo eles não esperavam que ao sair do banco estariam sendo esperados pela polícia. Uma troca de tiros e o marido e outro três morreram. O comparsa fugiu pelos fundos e não foi pego e o dinheiro não foi recuperado. 

O homem voltou para casa, mas não existia provas que ele estivesse ligado ao assalto. A mulher, porém, sabia e cobrou a parte do marido. Ela tinha que fazer isso. Por causa dele ela estava endividada, já que não tinha dinheiro suficiente para pagar o velório e enterro do marido. Por causa dele ela teria que cuidar dos quatro filhos sozinha. Cobrou, mas teve o dinheiro. 

Irada ela avisou que daria a volta por cima e que todos iriam respeitá-la. Ela então começou a atender os antigos clientes do marido, não os que iam para a barbearia fazer a barba, eram aqueles que iam comprar drogas. Só que o negócio foi crescendo e em pouco tempo ela não atendia apenas os seletos clientes do finado marido. Tinha uma grande clientela, negociava com os fornecedores. Atendia a domicílio se fosse necessário, afinal os vips ainda existiam.

Ela não tinha medo de cara feia. Enfrentou traficantes conhecidos como cruéis. Enfrentou tiroteios, matou e mandou matar. Em menos de um ano dominou a região, nos dois seguidos três bairros tinham o tráfico de drogas controlado por ela. Subornou policiais, juízes e promotores. Perdeu o medo e entendeu que quem fazia as leis era ela. As demais eram para as pessoas sem coragem de enfrentar. Assim a mulher se tornou a Baronesa do Tráfico.

A Baronesa acumulou muito dinheiro, lavou muito dinheiro para políticos. Sabendo da vida perigosa que levava entendeu que os filhos não deveriam ficar ali, Era perigoso demais. Mandou os três mais velhos estudar no exterior, ficou com apenas o mais moço que na época tinha sete anos. A menina de 20 e o rapaz de 18 foram para os Estados Unidos. A menina de 15 foi para um internato na Inglaterra, assim que ela concluísse o ensino médio (no período chamado de 2º Grau) deveria ir morar com os irmãos, que já estavam na faculdade.

Não havia o que ela não pudesse comprar. Cheque? Nem pensar, ela fazia questão de pagar tudo em dinheiro vivo. E nunca andou com pouca quantidade. Ela esbanjava, porque podia e se achava no direito.

Só que o tempo foi passando e ela envelhecendo. Mandou o caçula para morar com os irmãos nos Estados Unidos, viu o seu reinado ameaçado. Perdeu espaço, perdeu parceiros. O tráfico também havia mudado durante aqueles anos. Com a virada do milênio perdeu importantes aliados. Foi presa e passou um bom tempo assim. Uma das suas marcas registradas, o leque, foi mantido e as próprias carcereiras providenciavam o objeto para ela.

Ao ser solta, com seus 63 anos, no começo de 2009 voltou para a sua casa, agora não tão mais bela como antes. Não quis morar com os filhos no exterior, agora os quatro moram em Paris. Trabalham por lá, têm suas famílias. Não vieram para o Brasil e a própria mulher acredita que eles nunca mais moraram aqui. Não vive só, vive com uma sobrinha, também idosa.

Hoje vive com uma aposentadoria, no valor de um salário mínimo, e do aluguel de dois pequenos imóveis. A cada três meses recebe um agrado financeiro dos filhos. Mesmo assim o valor e pouco para quem precisa de medicações especiais.

Com suas roupas velhas, leque em punho, sacolinha, passos lentos e pesados. Aquela velhinha, uma vovozinha gentil, sorridente, que conta moedinhas ao comprar pão no final de cada mês. Aquele delicada senhorinha já foi um dia a Baronesa do crime.

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sábado, 11 de abril de 2015

#QLQRUA: Mudar em nome da vida

Imagem da internet
Todos os dias aquela mulher que aparenta ter uns 50 anos aparace no portão da escola como se estivesse entrando em um matadouro e que a próxima a ser assassinada era ela. Nesta situação desesperadora, ela não se encontra sozinha, inúmeras pessoas de diferentes profissões estão na mesma. Veja só aquele médico. Uns 40 anos, talvez, não sabe o que é examinar criteriosamente um paciente faz anos. Já errou feio, pois faz diagnósticos muito mais pela dedução do que pela certeza.

Aquele jornalista de humor cretino, resmungão. Ele é outro, enfurnado dentro da redação, fede a cigarro e café. Em casa só reclama, nem mesmo sabe o porquê continua casado. A recepcionista que esqueceu o que é sonhar, odeia todos que chegam perto daquele maldito balcão. Mas não reclama, é cômodo. A tal estabilidade financeira conquistada após passar no concurso. O consultor, 35 anos, que não suporta mais lidar com ações vive bêbado.

Todos, mesmo não gostando do que fazem, seguem firmes e fortes na posição que estão. Imóveis. Todos tem a mesma desculpa: "tenho filhos para terminar de criar". Em alguns casos sofrem as variações de "eu tenho que ajudar a criar meu neto" Não apenas isso, colocam o peso de continuarem no sofrimento em doenças, nas famílias falidas. Na vida. Claro, muito mais fácil arranjar pretextos do que assumir a responsabilidade real do "eu não quero mais isso para a minha vida!"

Mudar é tão difícil, leva a terrenos vazios. Dá medo! MEDO! Muito medo. Enfrentar é ruim. Melhor esperar a aposentadoria. Aposentadoria...

Viver uma vida cheia de regras sem fundamentos, sem orgulho, sem alegria em nome do dinheiro? Da estabilidade? Da aposentadoria? Do medo de mudar?

Claro que quem muda perde muita coisa, mas quem abre mão do movimento também não perde muita história? Será que aquela professora, o médico, o jornalista, o contador, enfim, todas essas pessoas não encontrariam uma leveza na vida, além deste peso que  carregam diariamente?

Será que eles não conseguiriam alegrar e cuidar muito mais das suas famílias se mudassem? A tristeza só traz uma coisa para a vida, doença, brigas e tudo mais. A saúde vai embora e começa a aparecer uma coisa aqui e outra colá.

Esperar não adianta para quem já percebeu que o rumo da vida já não bom. Mudar, eu sei, não é fácil, porém é necessário em nome de uma coisa chamada VIDA, afinal ela passa muito rápido.

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sábado, 4 de abril de 2015

#QLQRUA: Tolerância e respeito acima de tudo

Há um tempo atrás ouvi no ônibus a conversa de uma senhora no telefone. Ela contava para a outra pessoa que a filha, pelo que entendi, adolescente havia lhe contado que era lésbica. A mulher contava de forma tão natural que pelo jeito não havia ficado chocada com a notícia. Mas o assunto gerou certa graça, quando ela, com voz fina, explicou que a única coisa que havia pedido para a filha era de que ela não namorasse nenhuma menina que fosse ladra, drogada, bebesse ou fosse traficante. Era engraçado pela forma em que ela disse aquilo. Não pela recomendação, pois acredito que ela é exatamente a dada por grande maioria dos pais.

Quem dera que todos os pais tivessem a mesma tranquilidade sobre o assunto tal como a mãe que descrevi acima. Que aceitou sem nenhum problema a sexualidade da filha. Na verdade eu gostaria que todos nós tivéssemos o discernimento que a mulher de voz engraçada teve.

Ela contou para a outra mulher o fato da filha gostar de meninas de forma tão normal, assim como uma mãe comentaria que o filho seguia sendo um bom aluno na escola. Não condenou, apenas fez aquilo que todo pai, mãe ou responsável faz: tem o filho como assunto principal nas rodas de conversas.

A mulher não tolerou a homossexualidade, aceitou e respeitou. Nada além disso, nada além do que todos deveriam fazer. Nesta semana ouvi no rádio que está tramitando uma lei que trata do tal "dia do orgulho hétero". No mês de dezembro do ano passado, saiu uma matéria sobre um pastor no Arizona (EUA) que sugeriu que apedrejassem os gays, assim se evitaria a disseminação do vírus HIV. Ora bolas, por que tanta hipocrisia?

Tem a bancada evangélica que quer boicotar a novela Babilônia, da Rede Globo, por causa do beijo dado pelas atrizes Fernanda Montenegro e Nathália Timber, que fazem um casal gay no folhetim.

E cada uma que sai na imprensa e nas redes sociais sobre a intolerância sexual que me assusto. Não somente com a violência que os homossexuais, bis e trans sofrem, todavia também com a regressão da nossa sociedade. Por vezes nos vejo com a mais desenvolvida tecnologia e com os povos vivendo na Idade Média. As cidades como grandes centros e as pessoas vivendo com pequenos feudos.

Acredito que a sexualidade de alguém não deva ser tema de polêmicas, debates, de boicotes, de motivo de violência. Cada um de nós tem que ter a liberdade de ser, querer e desejar o que quiser, sem ter a intervenção de ninguém. Em um País que os casos de corrupção são frequentes, que a edução está sucateada, que a saúde está precária, que a população carente ainda sofre e que o transporte público não funciona, levantar polêmicas sobre uma pessoa ser gay ou não é a coisa mais absurda que existe.

Mulher, homem, transexual... Todos devem ter direitos iguais a todos. Tolerância e respeito acima de tudo!

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sexta-feira, 3 de abril de 2015

Seis músicas que passei/retornei a ouvir neste mês de março

Não sou muito boa em nome de músicas, nem o nome de muitos artistas. Sou daquelas pessoas que preferem ligar o rádio e escutar o que for apresentado. Claro que tenho minhas canções preferidas, meus músicos e bandas mais queridas. Mas neste mês descobri e redescobri muita coisa. Fiz uma listinha das que ouvi com mais frequência, por inúmeros motivos. Resolvi apresentar então a listinha do meu Top 6 de março, rsrsrsrsrsrsrs. Não tem ordem de preferencia, logo não terá 1º, 2º, 3º... Relaxa e escuta, mas aviso meu lado menininha falou bem mais alto nessa seleção.







Combo (porque eles não poderiam faltar):