terça-feira, 24 de março de 2015

#QLQRUA: Deu branco

imagem: reprodução

Na tela do computador a imagem branca, a folha virtual limpinha espera aflita por ser escrita. Mas do outro lado há uma pessoa ainda mais ansiosa, ainda mais nervosa. O tal branco imperador chegou e impossibilitou que as ideias, antes coloridas e ágeis, fossem de vez para o papel.

Porém, angustiante é para aquela menina que olha para a prova com desespero e se questiona: _Cadê tudo que estudei? Será que nada aprendi?

O teste ali em branco, tão branco quanto os pensamentos da jovem, que no dia anterior havia ficado horas estudando.

Poucas coisas no mundo são os famosos brancos em uma hora importante. Basta precisar ter um trabalho para entregar que lá vem ele. Ter branco em prova é mais complicado ainda, não é mesmo? Desesperador, afinal prova tem hora exata para entregar.

O fato é que o branco em geral acontece em momentos de muita tensão ou simplesmente quando não damos o foco na atividade que teremos que acontecer, afinal quem nunca teve um branco enquanto falava com a mãe, com o amigo ou com o chefe? Falava e de repente esqueceu qual era o assunto. Isso é causado porque o tema da conversa era um, porém o pensamento estava em outra coisa.

O branco é tão comum que seu desespero é compartilhado. Virou tema de filmes e os personagens se tornaram queridos pelo público. Um exemplo simples é a peixinha Dóris, de Procurando Nemo. Uma das coisas que a peixinha só se lembrava era da música "continue a nada".

Acredito que todos nós temos o nosso momento Dóris. E quando ele retornar o melhor é manter a paciência.



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sábado, 14 de março de 2015

#QLQRUA: A paixão brasileira

Até tu Bob Esponja?!
A família para na frente da televisão. Largam os celulares por um tempinho, mas um ou outro pegava-o para twittar algum comentário. Na rua apenas uma moto com problemas de escapamento fez barulho. Os cães latiram, porém, coitados, foram mandados calarem as bocas.

No bar lotado, como todas as sextas-feiras, o garçom servia cervejas, porções de alimentos diversos e etc. Mas diferente dos demais dias, poucos o chamavam. Os olhos da clientela e de todos os demais estavam vidrados na tv, tal como nos jogos de futebol da Seleção Brasileira.

Em um dos quartos de um hospital, o acompanhante de um dos doentes tentava arrumar um jeito para a televisão funcionar. Era um mexe daqui, dali. Até que a imagem, com um pouco de fantasminha, pegou. E assim os quatro doentes e os três acompanhantes puderam assistir o programa.

Até mesmo no presídio as atenções estavam voltadas para o televisor (palavra que retirei do vocabulário dos meus avôs, hehehehehehe). Nenhum dos presos queria perder o capítulo.

O que chamou a atenção de tanta gente foi o último capítulo da novela Império. Uma história cheia de altos e baixos, com direito a algumas bizarrices. O sucesso do fim da novela foi tão grande que ficou nos TT's mundiais. E mesmo depois de algumas horas do fim total do enredo o assunto ainda estava nos mais comentados do Twitter.

Desde a novela Avenida Brasil (2012), história que ditou moda e memetizou na web, não se tinha um sucesso destes. As outras histórias até fizeram sucesso, contudo, muito por causa de um personagem que chamou mais a atenção, como no caso do vilão Felix, de Amor à vida. Se Avenida Brasil tinha Carminha, Nina, Max, Tufão, o homem e as suas três mulheres, um bairro movimentado, cheio de personagens marcantes, Império não ficou atrás, já que tinha o Comendador José Alfredo, Dona Maria Marta, a filharada, a tia Cora (louca), a Chana, a família doida da Maria Isis, e todos os conflitos sociais vividos, divididos por um subúrbio animado e a elite com fortes conflitos familiares.

De fato, no Brasil é loucura dizer que novela é coisa de mulher, este é o tipo de programa em que o público é generalizado. Este é o estilo de narrativa predileta de um povo que até bem pouco tempo atrás tinha um índice alto de analfabetismo. Agradando ou não as histórias de hoje pouco se parecem com as mais antigas. Agora os personagens são cheios de contradições e o mocinho também tem ares de vilão.

Verdade seja dita. Se o brasileiro tem paixões, novela só perde para algumas partidas de futebol.

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quarta-feira, 11 de março de 2015

Conheça um pouco de Marleide Silva - Heptacampeã Brasileira no Paraciclismo

Marleide no Mundial 2013/Foto: álbum pessoal da atleta
Há um tempo atrás tive o prazer de conversar com Marleide Maria da Silva, a primeira triatleta com deficiência visual, do Brasil. Marleide não nasceu cega, perdeu a visão em decorrência a uma doença que atacou a sua retina. Ela não teve medo, mas teve que se adaptar a nova condição. Contou com a ajuda da família e de amigos. Entre os seus principais títulos está a prata no Mundial de Triathlon 2014, o bicampeonato no Brasileiro da modalidade (conquistados em 2013 e 2014), e o ouro no Pan-Americano da modalidade, em 2013. Marleide também compete no paraciclismo e é Heptacampeã Brasileira no Paraciclismo de Estrada, títulos ganhos de 2008 a 2014.

Só que nem tudo é flores na vida da primeira triatleta deficiente visual da América Latina. Ela precisa de ajuda financeira para poder participar do Campeonato Panamericano de Paratriathlon 2015, em Monterrey, no México. Os interessados em doar, qualquer valor, podem fazer clicando aqui, até 31 de março*.

Conheça um pouco mais da história de Marleide:

Bruna Souza - Eu li que perdeste a visão por causa de uma doença chamada de retinose pigmentar. Como o esporte entrou na tua vida e qual a importância que a prática esportiva teve para a superação deste problema?

Marleide Silva - Sim, é verdade. Eu recebi a notícia que eu perderia a visão, quando aos 22 anos dei à luz ao meu único filho. O médico me informou que isso poderia acontecer dentro de dias, de meses, de anos ou talvez até nunca viesse a acontecer. Então, a cada dia que eu acordava e podia enxergar, eu agradecia a Deus. E Ele foi tão bondoso que atendeu ao meu pedido de não perder a visão antes de poder criar o meu filho. Quando aconteceu, ele já tinha 13 anos. O esporte entrou em minha vida graças ao convite de minha irmã Neide, que também é deficiente visual. Ele já morava em Santos e soube de um projeto chamado Motivação criado pelo sargento Wilson, da polícia Militar, que ensinava diversas modalidades esportivas a pessoas com deficiência. Comecei então a correr, e logo em seguida tomei gosto pela natação também. Por último conheci o ciclismo. Esses dois últimos pelas escolinhas de esportes de Santos. Hoje pratico as 3 modalidades separadamente, e também faço o triathlon. O esporte me fez entender que mesmo com minhas limitações, eu poderia levar uma vida praticamente normal, o que me deu maior segurança e independência.
Pan-Americano/Foto: álbum pessoal da atleta
Bruna - Por que decidiste a fazer triathlon?

Marleide - O triathlon foi minha paixão desde o início, pois percebi que apesar da dificuldade para completar o percurso, eu me sentia realizada a cada transição de uma modalidade para a outra. Terminar o triathlon então, era um prazer. Quando faço triathlon esqueço o cansaço e os problemas que tenho com a falta de estrutura.

Bruna  - O que consideras o mais difícil nesta profissão de atleta?

Marleide  - O mais difícil com certeza é conseguir ajuda financeira ou assessoria esportiva. Conciliar os treinos com o tempo de minhas guias também é um problema, pois cada uma tem seu trabalho, e infelizmente não posso custear os treinos. Todas elas prestam um serviço voluntário! São meus olhos. Sem elas eu não saio do lugar.

Copa do Brasil Paraciclismo 2014/Foto: álbum pessoal da atleta
Bruna  - Percebeste muitas mudanças na tua autoestima depois que viraste atleta?

Marleide  - As mudanças aconteceram porque como com qualquer atleta, o esporte dá maior disposição e melhora muito a autoestima. No meu caso, o esporte não deixou que eu me entregasse às lamúrias ou ao mau-humor e me impediu de sentir pena de mim mesma. Eu me tornei uma pessoa independente, autoconfiante e segura. E por consequência disso tudo, mais feliz!

Bruna  - Hoje o que consideras ser o mais complicado para o atleta que possui algum tipo de deficiência?

Marleide  - Por mais títulos que um paratleta tenha e por mais que ele prove que é capaz, infelizmente não é reconhecido. Veja o caso das Paralimpíadas de Londres, por exemplo: Todos viram o desempenho dos atletas com deficiência e a quantidade de medalhas que trouxeram para o país. Mesmo assim, o que aparecia nos noticiários eram apenas os resultados dos mesmos! Alguém acompanhou as paralimpíadas pela TV? Houve alguma cobertura de alguma emissora, como acontece com as Olimpíadas? Não. E é sabido que um paratleta, naturalmente se desdobra ainda mais para superar seus limites. Ainda assim poucos dão o devido valor à nós. É difícil conviver com isso. Mas acredito que muita coisa já melhorou e tenho fé que a tendência seja melhorar cada vez mais.

Marleide foi bronze no Mundial de Londres/Foto: álbum pessoal da atleta
*O Pan-Americano de Paratriathlon será a partir de 2 de Maio.

#Esportes

sábado, 7 de março de 2015

#QLQRUA: Dois trabalhos, mas um secreto

Imagem meramente ilustrativa/ Foto: banco de imagens
Todo dia aquela moça alta e de corpo esbelto sai rumo ao trabalho, às 7h. Tem uma rotina intensa. Só chega em casa por volta das 18h. Tem apenas uma hora de intervalo para o almoço, pontualmente a partir das 13h. Ao voltar do trabalho vai até a escola de educação infantil e pega o filho de quatro anos. Chega em casa e verifica se a mãe tomou todos os remédios, dá a ela os últimos do dia. Faz na mulher um afetuoso carinho, lhe beijando a testa. Faz coceguinhas no pequeno e o abraça. Mas não dá trégua e o coloca no banho.

Só que o dia ainda não acabou. A moça organiza a casa e começa a preparar o jantar. Para um pouco só na hora de comer, lá pelas 21h. Vê a agenda o filho e conversa um pouco com a família. Logo após  coloca o pequeno para dormir e arruma a mochila dele para o dia seguinte. Lava a louça.

Verifica como está a mãe. A mulher se trata de um câncer que nos últimos meses já não evolui mais.  A jovem fica bem aliviada com a situação.

Quando os demais da casa estão dormindo ela vai até o quarto e coloca secretamente alguns objetos na bolsa. Faz os cálculos breves dos gastos no mês e percebe que se não tiver mais alguns clientes fechará o período no vermelho.

A jovem mulher em questão é mãe solteira. O pai do menino, com quem ela era casada, a abandou grávida e sumiu. Há um ano descobriu o câncer da mãe e desde então não descuidou dela nem um instante. O filho estuda em uma escola particular, já que a única pública da região não havia vagas. Era necessário pagar para poder trabalhar. Os remédios da mãe também não eram baratos. Alguns o SUS dava, mas outros não.

Ela trabalha em um escritório. E durante alguns almoços prefere se isolar. Diz aos colegas que irá meditar. Na verdade a jovem tem uma trabalho duplo, sendo que o segundo ninguém conhece.

A moça vai apressada e entra em um apartamento alugado (por um preço bem baixo). Leva dentro da bolsa o notebook. Ao chegar conecta  o computador na internet e vai ao banheiro. Lá troca a roupa social por uma insinuosa lingerie. A maquiagem fica mais forte, o batom vermelho. Lentes azuis e peruca ruiva. Muda de personalidade. Vinte minutos basta para mudar completamente e comer rapidamente um sanduíche. O computador apita é hora de atender o cliente. Meia-hora para aquele homem. Neste tempo teria um strip-tease, alguns palavrões trocados pelos dois e a habitual masturbação, com direito a gritos (nem sempre verdadeiros) de prazer. Depois daquele cliente, havia mais um. Essa consulta rápida. Algo de dez minutos, tempo suficiente. Após troca de roupa rapidamente, tira a maquiagem e etc. Corre para o trabalho. Enquanto isso marca mais alguns clientes. Serão menos almoços com os colegas neste mês.

Essa jovem que secretamente vira uma web sex girl não está sozinha. Não existe um número exato de quantas pessoas prestam serviços sexuais na internet, para falar a verdade no modo real também não. O que se sabe que o mercado erótico é um dos mais rentáveis economicamente. Só a indústria de produtos eróticos movimenta no Brasil cerca de R$ 800 milhões por ano, de acordo com a Associação Brasileira de Empresas do Mercado Erótico. Os sites mais acessados pelo mundo tem o termo sexo como os mais buscados. Mesmo sendo um tabu, o assunto gera muitos negócios.

Todavia, o sexo é considerado algo errado e quem vive dele sofre muito preconceito. Por isso a jovem mulher prefere manter em segredo a sua segunda profissão, já que desta forma evita manchar a sua carreira e aqueles que amam não sofrem com a intolerância de muitos.