quarta-feira, 11 de março de 2015

Conheça um pouco de Marleide Silva - Heptacampeã Brasileira no Paraciclismo

Marleide no Mundial 2013/Foto: álbum pessoal da atleta
Há um tempo atrás tive o prazer de conversar com Marleide Maria da Silva, a primeira triatleta com deficiência visual, do Brasil. Marleide não nasceu cega, perdeu a visão em decorrência a uma doença que atacou a sua retina. Ela não teve medo, mas teve que se adaptar a nova condição. Contou com a ajuda da família e de amigos. Entre os seus principais títulos está a prata no Mundial de Triathlon 2014, o bicampeonato no Brasileiro da modalidade (conquistados em 2013 e 2014), e o ouro no Pan-Americano da modalidade, em 2013. Marleide também compete no paraciclismo e é Heptacampeã Brasileira no Paraciclismo de Estrada, títulos ganhos de 2008 a 2014.

Só que nem tudo é flores na vida da primeira triatleta deficiente visual da América Latina. Ela precisa de ajuda financeira para poder participar do Campeonato Panamericano de Paratriathlon 2015, em Monterrey, no México. Os interessados em doar, qualquer valor, podem fazer clicando aqui, até 31 de março*.

Conheça um pouco mais da história de Marleide:

Bruna Souza - Eu li que perdeste a visão por causa de uma doença chamada de retinose pigmentar. Como o esporte entrou na tua vida e qual a importância que a prática esportiva teve para a superação deste problema?

Marleide Silva - Sim, é verdade. Eu recebi a notícia que eu perderia a visão, quando aos 22 anos dei à luz ao meu único filho. O médico me informou que isso poderia acontecer dentro de dias, de meses, de anos ou talvez até nunca viesse a acontecer. Então, a cada dia que eu acordava e podia enxergar, eu agradecia a Deus. E Ele foi tão bondoso que atendeu ao meu pedido de não perder a visão antes de poder criar o meu filho. Quando aconteceu, ele já tinha 13 anos. O esporte entrou em minha vida graças ao convite de minha irmã Neide, que também é deficiente visual. Ele já morava em Santos e soube de um projeto chamado Motivação criado pelo sargento Wilson, da polícia Militar, que ensinava diversas modalidades esportivas a pessoas com deficiência. Comecei então a correr, e logo em seguida tomei gosto pela natação também. Por último conheci o ciclismo. Esses dois últimos pelas escolinhas de esportes de Santos. Hoje pratico as 3 modalidades separadamente, e também faço o triathlon. O esporte me fez entender que mesmo com minhas limitações, eu poderia levar uma vida praticamente normal, o que me deu maior segurança e independência.
Pan-Americano/Foto: álbum pessoal da atleta
Bruna - Por que decidiste a fazer triathlon?

Marleide - O triathlon foi minha paixão desde o início, pois percebi que apesar da dificuldade para completar o percurso, eu me sentia realizada a cada transição de uma modalidade para a outra. Terminar o triathlon então, era um prazer. Quando faço triathlon esqueço o cansaço e os problemas que tenho com a falta de estrutura.

Bruna  - O que consideras o mais difícil nesta profissão de atleta?

Marleide  - O mais difícil com certeza é conseguir ajuda financeira ou assessoria esportiva. Conciliar os treinos com o tempo de minhas guias também é um problema, pois cada uma tem seu trabalho, e infelizmente não posso custear os treinos. Todas elas prestam um serviço voluntário! São meus olhos. Sem elas eu não saio do lugar.

Copa do Brasil Paraciclismo 2014/Foto: álbum pessoal da atleta
Bruna  - Percebeste muitas mudanças na tua autoestima depois que viraste atleta?

Marleide  - As mudanças aconteceram porque como com qualquer atleta, o esporte dá maior disposição e melhora muito a autoestima. No meu caso, o esporte não deixou que eu me entregasse às lamúrias ou ao mau-humor e me impediu de sentir pena de mim mesma. Eu me tornei uma pessoa independente, autoconfiante e segura. E por consequência disso tudo, mais feliz!

Bruna  - Hoje o que consideras ser o mais complicado para o atleta que possui algum tipo de deficiência?

Marleide  - Por mais títulos que um paratleta tenha e por mais que ele prove que é capaz, infelizmente não é reconhecido. Veja o caso das Paralimpíadas de Londres, por exemplo: Todos viram o desempenho dos atletas com deficiência e a quantidade de medalhas que trouxeram para o país. Mesmo assim, o que aparecia nos noticiários eram apenas os resultados dos mesmos! Alguém acompanhou as paralimpíadas pela TV? Houve alguma cobertura de alguma emissora, como acontece com as Olimpíadas? Não. E é sabido que um paratleta, naturalmente se desdobra ainda mais para superar seus limites. Ainda assim poucos dão o devido valor à nós. É difícil conviver com isso. Mas acredito que muita coisa já melhorou e tenho fé que a tendência seja melhorar cada vez mais.

Marleide foi bronze no Mundial de Londres/Foto: álbum pessoal da atleta
*O Pan-Americano de Paratriathlon será a partir de 2 de Maio.

#Esportes

4 comentários:

Adriana Dias disse...

Olá Bruna! Nossa, que surpresa boa ver a matéria, na íntegra, publicada em seu blog. Muito obrigada pela homenagem a essa grande guerreira! Esse ano, infelizmente, Marleide resolveu parar com o Triathlon (que é o esporte que ela mais gosta), devido aos custos das competições que são muito altos, e pra ela são duplos. Mas ela continua firme no ciclismo. Agora ela está se aventurando também no Goalball, ou seja, essa danada não para! Rs.
Abraços.

Bruna Santos de Souza disse...

Que bom que vocês gostaram. Uma pena a Marleide ter deixado o Triathlon, mas ao mesmo tempo é muito bom saber que elas também está se aventurando em outros esportes. =) Obrigada pelo carinho!

Adriana Dias disse...

Nós é que agradecemos pelo carinho, Bruna! Ah, novidades, nesse sábado (21/03), nossa querida Marleide vai competir pela primeira vez no Goalball... Campeonato Paulista! Fica na torcida, heim! Bjs.

Bruna Santos de Souza disse...

Ficarei! =)