terça-feira, 27 de agosto de 2013

QLQRUA: A menina que sonha em ser enfermeira

A história que poderia ser de muitos. Foto: banco de imagens
Ela, formada em enfermagem, mora em uma rua qualquer do bairro Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre. Empregada em um escritório, é noiva e sonha em ter a casa própria. Tem a pele escura como a noite e é baixinha. Fala bem e gosta de ler.

Queria mesmo era trabalhar na profissão que escolheu, era atuar em um hospital. Ouviu em seis meses o nada, nem mesmo um não. Tem a esperança machucada, queria uma oportunidade.

Falou abertamente com quem não conhecia, desabafou com quem partilha uma dor similar no ego. Não teve medo de dizer que já não sai mais de casa, pois odeia ser indagada o porquê ainda não está trabalhando. Não tem uma indicação forte e essa é a principal reclamação dela.

É ainda uma menina, 27 anos, mas conhece um pouco do mundo e fica chateada com ele. Confidenciou gosta de saber que  hoje tem amigos bem colocados no mercado, mas tem raiva de saber que há os que não lutam para conseguir e estão nos melhores cargos, aqueles "coleguinhas" que assistiam aula bêbados ou drogados, tem nome e sobrenome pesados e influentes.

Não é só mais uma na sociedade nem sempre cruel e nem sempre justa com seus guerreiros. Contudo, é mais uma jovem heroína que luta para mudar de vida. Sente um orgulho danado da mãe, copeira, e que a ensinou a ser uma destemível lutadora. Ama o noivo e com ele planeja evoluir. Não sabe se queria conhecer o pai (que foi embora e deixou a mãe dela grávida), só sabe que tem horas que sente falta de alguém que pudesse fazer esse papel, não entende bem esse sentimento e esse querer.

No mais, mesmo com a esperança machucada, segue de cabeça erguida, porque o que mais quer é trabalhar como enfermeira. Mais detalhes não sei, pois quando o ônibus chegou na minha parada me despedi e desci. Esqueci de perguntar o nome dela e ela o meu (eu tenho essa mania de ouvir as pessoas que nunca vi antes e não me apresentar).

Só sei dizer que assim como essa menina existem milhares de outros inconformados com as suas vidas e que querem fazer a diferença, que querem evoluir. Milhares que se formam na faculdade e que lutam muito para conseguirem o seus lugares ao Sol. Torço muito para que ela e todos os milhares (assim como eu um dia) consigam exercer suas profissões e tenham a vida que sempre sonharam.

*Essa e a primeira crônica/conto que escrevo da série Em Qualquer Rua, ainda existiram muitas outras, só não sei quantas.


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